Kayapó participam de capacitação sobre políticas públicas em Novo Progresso

Oficina realizada com lideranças do Instituto Kabu contribuirá na construção do Plano de Gestão Territorial e Ambiental das TIs Baú e Menkragnoti
Kayapó participam de capacitação sobre políticas públicas em Novo Progresso
02.07

Um grupo de 17 lideranças do Instituto Kabu participou durante uma semana de uma oficina sobre políticas públicas para aprender e trocar experiências relacionadas a seus direitos. 

Realizada na Câmara Municipal de Novo Progresso (PA), a capacitação contribuirá na construção do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) das Terras Indígenas (TIs) Baú e Menkragnoti. 

O plano é um instrumento feito pelos e para os indígenas, segundo suas aspirações e visões de futuro, com potencial de contribuir para valorizar o conhecimento dos povos sobre seus territórios, para transmitir saber entre gerações e promover o uso sustentável dos recursos naturais, gerando alternativas de renda e reduzindo as ameaças sobre as TIs.

Com esses programas de formação, os indígenas ajudam o Kabu em discussões permanentes com órgãos públicos, organizações parceiras do terceiro setor e empresas que já têm ou terão negócios com os Kayapó na compra de produtos não madeireiros, como sementes e artesanato.

Ao final do curso, os Kayapó entoaram cantos e comemoraram essa etapa, que ajuda no empoderamento dos indígenas frente às ameaças aos seus direitos (assista ao vídeo abaixo).

O curso foi ministrado pelo antropólogo e especialista em direitos humanos Daniel Lopes Faggiano, diretor do Instituto Maíra, e teve o financiamento do Fundo Kayapó, administrado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO).

“Assim como não existe vida por procuração, também não há luta por delegação. Nesse sentido, o povo Mebêngôkre assumiu na prática a função de guardiões e guardiãs da justiça socioambiental. Hoje estão ainda mais preparados para enfrentar os desafios que se avistam no horizonte”, disse Faggiano. 

Para o antropólogo, os indígenas são conscientes de sua realidade. “Certos de seus direitos e firmes em sua cultura, o povo Mebêngôkre não irá se calar frente às injustiças e violações de direitos. É um povo consciente de sua realidade e está preparado para, junto com as instituições democráticas, construir um Brasil mais livre e justo para todos e todas.”

Direitos – A gestão territorial e ambiental de Terras Indígenas é uma forma de buscar caminhos possíveis para enfrentar problemas encontrados nos territórios e consolidar programas que visam a preservar a floresta e suas riquezas naturais. 

Nesse contexto, instrumentos de gestão têm sido reconhecidos como uma maneira de apoiar o uso sustentável dos dos recursos naturais, reconhecendo os conhecimentos indígenas associados à conservação da biodiversidade. 

Recentemente, relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) classificou os indígenas e povos tradicionais como “guardiões da floresta”. 

Essa luta pode ser vista na prática nas TIs Baú e Menkragnoti, que têm protegido seus territórios de atividades ilegais, como garimpo, extração de madeira e grilagem. Essas atividades estão levando o desmatamento para a fronteira das TIs.

Somente no ano passado, a devastação no entorno das TIs foi de 1.529,1 km², o que corresponde, por exemplo, à área do município de São Paulo (1.521,1 km²). Já no território indígena ficou em 4,17 km² (0,3% do total).

Essa preservação é resultado do monitoramento feito com o apoio do Kabu e do trabalho das bases de vigilância.