Lideranças indígenas da Amazônia debatem impactos do garimpo nos territórios

Seminário foi realizado na tenda da Coiab a pedido das associações em paralelo à programação do ATL
Lideranças indígenas da Amazônia debatem impactos do garimpo nos territórios
27.04

Morte dos rios, contaminação dos peixes, fuga dos animais, degradação ambiental e muitas enfermidades como malária, diarréia e doenças de pele foram alguns dos prejuízos causados por garimpos e denunciados pelos indígenas de diversas etnias durante seminário realizado nesta terça-feira (dia 25) na tenda da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) a pedido das associações. 

Por três horas, representantes de diversos povos debateram “A Amazônia Indígena: Impactos do garimpo e alternativas econômicas”, na única programação sobre o tema no Acampamento Terra Livre (ATL) 2023, em Brasília (DF).

A força das mulheres na luta contra o garimpo foi destaque no seminário. “Nossa terra é o coração do mundo. Os minerais são o coração da nossa terra. Não fomos nós que invadimos as terras deles. Foram eles que invadiram nossas casas. Vamos nos unir e mostrar quem manda nas nossas terras”, bradou aos parentes presentes a cacica Panh O Kayapó, da aldeia Baú, no Sul do Pará, uma das filiadas ao Instituto Kabu. 

Segundo a cacica, os Kayapó se uniram e já expulsaram mais de 200 garimpeiros de suas terras. A liderança pediu a união do movimento indígena contra o garimpo e reforçou o apoio aos parentes ainda em terras não demarcadas: “Estamos juntos com vocês. Vamos nos ajudar e conseguir juntos”. 

Vinda da aldeia Fazenda no Alto Tapajós, a cacica Isaura relatou a perseguição que tem sofrido dos garimpeiros, que já incendiaram sua casa, e denunciou a falta de respeito sofrida pelos caciques da região, além de uma série de doenças trazidas pelos garimpeiros e provocadas pelo mercúrio usado nos rios para separar o ouro. 

Cacica desde janeiro de 2023, Maria do Socorro, do Médio Tapajós, pediu às autoridades para agir urgentemente para retirar os garimpeiros da região do Tapajós. “Não tenho medo. Eu enfrento, mas precisamos de ajuda das autoridades”, enfatizou Maria do Socorro ao denunciar também fazendeiros que têm tirado madeira ilegalmente dos territórios indígenas. 

Pressão – Durante o encontro foi apresentado o resumo do diagnóstico produzido pela Coiab com o apoio do WWF-Brasil e The Nature Conservancy. Segundo o documento, o território Kayapó, no Pará, tem sido muito impactado pelo garimpo. Alertas divulgados pela imprensa já mostravam os riscos dos Kayapó e Yanomami sofrerem extermínio devido a hidrelétricas e garimpos.

O levantamento apontou que existem mais de 40 mil garimpeiros na Amazônia que, além de territórios indígenas, ocuparam prédios públicos de alguns municípios e fecharam postos de saúde. De acordo com o documento, os criminosos têm aliciado jovens indígenas oferecendo drogas, bebidas e dinheiro – até R$ 25 mil por uma viagem. 

O diagnóstico apontou ainda o desequilíbrio de gênero, mostrando que meninas e mulheres são as mais prejudicadas pelas atividades de garimpo porque são vítimas de exploração sexual e estupro.  Do ponto de vista ambiental, a destruição dos leitos dos rios, a morte de animais e o desmatamento causado pelas escavadeiras que abrem estradas dentro das TIs, foram destacados.

No ínio do mês, o presidente do Instituto Kabu, Doto Takak Ire foi à Coreia do Sul representando a Aliança contra o Garimpo, que une os povos mais atingidos pela atividade ilegal, entre eles os Kayapó, Yanomami e Munduruku, para denunciar empresas que produzem escavadeiras utilizadas pelos garimpeiros.