Oficina de sementes fortalece conhecimento tradicional dos Kayapó

Capacitação realizada na aldeia Pykatoti ajuda a transmitir conhecimentos ancestrais e contribui para a conservação da floresta
Oficina de sementes fortalece conhecimento tradicional dos Kayapó
13.09

Aliar o conhecimento tradicional dos Kayapó a técnicas científicas envolvidas desde a coleta até o transporte de sementes é um dos focos da oficina realizada desde o dia 12 de setembro (segunda-feira) na aldeia Pykatoti.

A capacitação envolve entre 15 e 25 indígenas, incluindo jovens e mulheres. São aulas teóricas e práticas, com uma carga horária de 30 horas, para tratar de vários temas. Vão desde conceitos sobre uso, germinação, coleta, beneficiamento, armazenamento até secagem e transporte de sementes. 

À noite, os participantes assistem a vídeos que mostram na prática o que várias populações tradicionais vêm fazendo para manutenção das florestas e formação de novas áreas de mata nativa por meio do cultivo de sementes. 

Os indígenas também aprendem sobre a muvuca, uma experiência aplicada pelos povos do Xingu por meio da Rede de Sementes do Xingu. A técnica consiste em fazer um coquetel de sementes que são plantadas de uma só vez. Entre elas estão milho, feijão, urucum, angico, jerivá, ipês, copaíba, buriti, entre outras. 

“Nossa expectativa é que mais uma vez haverá uma troca de saberes entre o técnico e tradicional em perfeita harmonia. Em que o espírito coletivo aflore cada vez mais, e que os Kayapó possam retornar às suas aldeias verdadeiramente desafiados e desafiadas a compartilhar conhecimento, só que com uma pitada de técnica sem perder a essência tradicional”, disse Cezarina Carvalho, que coordena o curso.

No início do ano, uma casa com cobertura de palha onde as mulheres artesãs trabalham na aldeia Kubenkokre já havia se transformado em sala de aula para lideranças, mulheres e jovens Kayapó (leia mais aqui).

O projeto de capacitação vem sendo desenvolvido pelo Instituto Kabu com apoio de parceiros como o FUNBIO. Com recursos do Fundo Kayapó, o Kabu também vem estruturando projeto de fruticultura no qual as mulheres indígenas, com ajuda dos jovens, plantam árvores frutíferas nos arredores das aldeias, em áreas de antigos roçados, clareiras na beira das estradas e das trilhas e nos próprios quintais, entre as casas e a floresta.

“As mulheres têm papel fundamental no trabalho com mudas e sementes porque são elas que cuidam das roças de milho, mandioca e dos tubérculos. Elas vão à floresta para coleta de frutos e plantas medicinais. Sabem a época de plantar, de colher e quais tipos de plantas medicinais devem ser plantadas nas bordas para evitar que insetos danifiquem os roçados”, explica Cezarina. 

Ao final da oficina, a ideia é transformar em desenhos, uma das marcas da cultura  Kayapó, o que foi transmitido na teoria. Também será feita a instalação de uma Unidade Demonstrativa de Área de Coleta de Sementes (ACS).