Intercâmbio entre Kayapó e Ashaninka fortalece saberes tradicionais

Troca inédita de experiências entre os dois povos inclui temas como agricultura sustentável, educação e gestão do território
Intercâmbio entre Kayapó e Ashaninka fortalece saberes tradicionais
16.03

Março, 2023 – Lideranças Kayapó participaram de intercâmbio cultural inédito com o povo Ashaninka em uma rica troca de experiências e aprendizados sobre o plantio e a produção de alimentos visando gerar renda e promover segurança alimentar e sustentabilidade no território indígena.

Cheio de momentos históricos, o encontro foi realizado entre os dias 1 e 8 de março na aldeia Apiwtxa, localizada na Terra Indígena (TI) Kampa do Rio Amônea, no município de Marechal Thaumaturgo, no estado do Acre.

Os Ashaninka, além de ter área plantada com diversas espécies frutíferas, palmeiras, plantas medicinais e verduras, também desenvolvem projetos de Sistema Agroflorestal (SAF), que em poucos anos já recuperou uma área de pastagem de gado, transformando-a em floresta.

O SAF é uma forma de uso e ocupação do solo em que árvores são plantadas ou manejadas em associação com culturas agrícolas, garantindo a melhora de aspectos ambientais e a produção de alimentos e de madeira. O sistema leva em consideração solo, clima, mercado, composição de espécies e até mesmo custos.

Em relação à produção de frutas, além de ser usada para consumo das comunidades, os Ashaninka comercializam o excedente em forma de polpas, gerando renda.

“O intercâmbio foi muito bom. Pudemos conhecer um pouco a rica experiência dos parentes Ashaninka com os sistemas agroflorestais. Esse é um trabalho que nós, Kayapó-Mekrãgnoti, precisamos desenvolver na TI Menkragnoti. Estamos maravilhados com a experiência. Foram dias muito produtivos e de aprendizagem”, diz Bep ojo Kayapó, conhecido como Bepte.

Na troca de saberes, os Kayapó conheceram Benki Piyãko, do povo Ashaninka, que cultiva várias espécies de árvores e desenvolve piscicultura em tanques escavados.

Para os Kayapó, a produção de alimentos no sistema florestal proposto pelo povo Ashaninka mostrou que é possível diminuir a dependência de produtos alimentícios industrializados, desde que as comunidades decidam mudar os conceitos e estratégias, analisando os impactos que esses alimentos causam na saúde das populações indígenas.

“Os conhecimentos que tive durante o intercâmbio serão usados em minhas aulas na aldeia. Pretendo passar para meus alunos os conhecimentos do sistema agroflorestal dos parentes Ashaninka, de como eles começaram, desafios e dificuldades. Fiquei muito impressionado com o que vi e ouvi. É um trabalho que nós, Kayapó-Mekrãgnoti, precisamos implantar em nossos territórios para diminuir a dependência de alimentos industrializados” relata Apêx Mekragnotire, professor indígena da aldeia Baú, que esteve no intercâmbio.

Além de tratar de agricultura sustentável, os indígenas compartilharam experiências e conhecimentos nas áreas de educação e organização para a gestão do território. A TI Kampa do Rio Amônea teve sua demarcação administrativa homologada em novembro de 1992, com uma área de 87 mil hectares e que abriga atualmente cerca de mil indígenas.

Outros temas tratados pelos participantes do intercâmbio foram as ações de governança implementadas pelas aldeias, as questões envolvendo conflitos e atividades ilegais, bem como formas de fortalecer a vigilância e a proteção territorial, articulando com a população do entorno.

A iniciativa foi promovida por meio do projeto Tradição e Futuro na Amazônia (TFA), que conta com o apoio do programa Petrobras Socioambiental e é gerido pelo Funbio. O intercâmbio teve a parceria da Conservação Internacional do Brasil, juntamente com o Instituto Kabu, a Associação Floresta Protegida, o Instituto Raoni e a Apiwtxa – Associação Ashaninka do Rio Amônia.